#02 | Eu odeio me sentir burra!
um desabafo de uma "filha que nunca deu trabalho" e a relação disso com algumas inseguranças
Eu odeio me sentir burra! Mas por que me sinto assim?
Sempre convivi com esse sentimento de forma muito natural e apenas recentemente passei a pensar mais profundamente sobre isso e a tentar entender o porquê de sempre me sentir assim. Foi então que me vieram memórias de desde muito nova, em que sempre cobrei de mim muito mais do que podia. Eu precisava ser sempre inteligente, sempre prestativa e obediente, e caso acontecesse de eu não seguir esses comportamentos em alguma situação, eu me culpava por tudo e me sentia a pior pessoa do mundo.
Sem dúvidas, além de outros fatores, isso aconteceu porque fiz parte do famoso fenômeno da “filha que nunca deu trabalho”, e odeio esse “título”.
Essas autocobranças me geraram, então, muitas inseguranças: o medo de decepcionar os meus pais, medo do fracasso (e só sabe deus que fracasso seria esse), o desânimo por não conseguir me comunicar tão bem quanto as outras pessoas, a sensação de que estão sempre me julgando, o incômodo que sinto quando discordam de mim e por aí vai. Tem também a situação patética que acontece quando estudo algo: fico sempre me refutando ou me faço questões inimagináveis mentalmente para testar meu próprio conhecimento, como se eu estivesse me preparando para um grande debate (que nunca vai acontecer), e tudo isso de forma muito involuntária.
O medo de ser odiada
Tenho o infeliz costume de, em conversas com amigos ou familiares, sentir a necessidade em dar satisfações e justificativas dos meus erros à essas pessoas, como se apenas eu errasse no mundo. Como se eu precisasse ser querida por todas elas e, ao mesmo tempo, como se todas elas precisassem saber que sei lidar de forma inteligente com as coisas da vida. Quando, na verdade, ninguém se importa se sei ou deixo de saber de algo! Além de que, o desenvolvimento das relações pessoais - acredito eu - está, justamente, nos erros e no processo para acertar, pois daí aprofundam-se os diálogos, a compreensão, o respeito e o fortalecimento dos vínculos.
Com as inseguranças, vem também o orgulho/egoísmo. Por me sentir insuficiente e básica demais, me apego às coisas que gosto e sinto ciúmes e raiva quando pessoas próximas a mim passam a gostar dessas coisas mais do que eu. Mas, nunca demonstro esse “ciúme”, claro, porque não me orgulho em ser assim e sei que ninguém tem culpa por eu pensar dessa forma. Enfim, todo um combo autodestruidor na minha mente.
A felicidade extrema - e não saudável, pois me torno dependente - também surge nesse processo, ao receber validação de professores ou de amigos. E outras várias e várias situações que eu poderia passar a vida citando aqui.
Coincidentemente, durante reflexões sobre esse assunto, pensando se isso seria um fenômeno comum entre as pessoas, li este texto:
que me inspirou a escrever e a pensar melhor sobre todas essas questões. Me identifiquei demais e senti um certo alívio por não ser a única! E se você se identificou com o que escrevi aqui (ou não), recomendo demais a leitura. :D
Apesar de tudo, de certa forma fico feliz por perceber essas pequenas sensações hoje em dia e saber que posso mudá-las, mesmo sendo um processo bem cansativo. Acho que enxergar quem somos de verdade e tentar lidar com isso é cansativo mesmo, né? Mas uma hora as coisas tomam seus devidos lugares, espero.
Agora: coisas do momento
Livros que estou lendo:
Iracema - José de Alencar
relendo: Água Viva - Clarice Lispector
acredito que vou demorar um pouco para terminar esses porque meus professores passaram muitos textos para ler nesse período. :(
sim! terminei Pedagogia do oprimido de Paulo Freire e pretendo trazer uma resenha bem básica sobre ele depois!
Algumas das músicas que mais ouvi esses dias (seguindo a sequência do “on repeat”, no spotify):
Esse álbum completo do João Bosco é lindíssimo, mas amei muito, especificamente, essas duas:
E essa, também muito linda, do Cazuza:
Por hoje é isso!
Muito obrigada por ver até aqui! Até a próxima conversa fiada. :)
Eu sou uma das pessoas mais inteligentes que conheço,simplesmente me sinto burra
Real, eu acabei de escrever sobre isso mas de forma menos aprofundada e sempre me falam: “não se preocupa não, você é inteligente…” e tipo eu não me enxergo assim, eu penso que só sou estudiosa e que vivo sob uma pressão extrema por parte minha principalmente.