Acordamos juntos. Eu, ansiosíssima para esta viagem. Tínhamos planejado tudo, combinado tantas coisas! Ela vai ser perfeita!
Eu me levantei primeiro, não estava conseguindo conter a animação. Abri as janelas, ainda tudo escuro (tinha esquecido que eram 3h da manhã). Ele levantou logo depois, meio desorientado ainda, e eu ri da sua cara de sono. Na cozinha, fomos preparar nosso café. O cheirinho bom de café fresco com o da manhã que ia nascendo me animaram ainda mais. Ele comeu pão com queijo e iogurte, e eu tomei meu café com algumas torradas. Fazia tempo que eu não me sentia tão feliz, era bom demais para ser verdade.
Tomamos banho, arrumamos as malas, as colocamos no carro e fomos embora. Mandei mensagem para os meus pais avisando de nossa ida.
Já na estrada, o sol lá no horizonte começando a surgir. Ainda bem que eu tinha levado minha câmera. Tirei várias fotos desse momento. A brisa da manhã com as paisagens aparecendo me deixavam cada vez mais feliz.
Coloquei uma música no rádio, fomos ouvindo e eu fui tirando mais fotos:
— Qual o nome desse lugar, amor? Quero registrar tudo no meu diário depois.
— Pela placa ali no cantinho, acho que se chama Monte de Sísifo.
— Muito bonito, vou tirar mais uma foto.
Minutos depois, a música que eu havia colocado para tocar, tocou novamente:
— Ué, amor? Essa não é aquela primeira música que coloquei para tocar?
— É sim. Deve estar repetida na playlist. Ajustamos depois.
Mas eu tinha quase certeza que não estava repetida, era uma das que menos ouvíamos juntos.
Continuamos na viagem e a estrada parecia infinita, mas era tão bonita que eu não me importava. Fui observando com atenção, só que uma hora peguei no sono. Alguns minutos depois, paramos.
— Amor, acorda. Vou precisar descer ali no posto de gasolina. Esqueci de abastecer antes.
— Tudo bem, bom que também desço do carro, estou ficando meio apertada.
Desci, fui para o banheiro perto do mercado e quando saí fiquei observando a paisagem. Alguns pássaros acordando, pousando nos fios elétricos. Um pé de ipê muito bonito lá na frente (me lembrou o que fica perto da casa dos meus pais). O sol agora ficando mais forte. Espero que eu não tenha esquecido o protetor solar. Continuei olhando e, ali, perto de outras árvores avistei uma casa. Avisei ao Fernando que eu ia lá perto só para tentar tirar algumas fotos.
— Tudo bem! Mas tenha cuidado, amor. Não vá muito longe, não conhecemos essa área.
Peguei minha câmera e fui.
Chegando mais perto, tudo foi me parecendo muito familiar, aquele cheiro e sensação de nostalgia e de estranheza, se mesclando com a brisa leve da manhã que ainda nascia, e o som dos pássaros cantando, e o ipê… espera aí! aquela é a casa dos meus pais!? Me aproximei um pouco. Realmente era! O jardim florido como sempre, o aroma de laranja vindo lá de dentro, do bolo que a mamãe faz. Era tudo tão real que chegava a doer. Isso não faz sentido! O Fernando não acreditaria nunca se eu contasse a ele. Sem pensar duas vezes, empurrei a porta e entrei.
Na entrada, as sandálias que meus pais sempre deixam na porta antes de entrar. Na sala, a TV ligada, mas cadê eles? Fui na cozinha, ainda hipnotizada pelo cheirinho bom de laranja, mas não achei minha mãe. No quarto, ninguém, só as fotos da minha irmã com nossa cachorrinha. Fui no quintal.
— Mãe! Pai! Irmã! Finalmente encontrei vocês. O que estão fazendo aqui fora?
— Tomando um ventinho. Lá dentro está muito quente, não sentiu? Parece até que a casa está pegando fogo, hahaha.
— Não diz uma coisa dessas, mãe.
Ouvi um barulho vindo da porta da frente, fui ver o que era. Abri, não tinha nada, apenas os matos que cercavam a casa se balançando com a ventania.
Voltei para o quintal.
Todos mortos.
Saí em desespero atrás do Fernando, corri o mais rápido que eu conseguia, gritando por socorro. As lágrimas escapando com o grito.
— Fernando! Fernando! Me ajuda! Meus pais… Fernando?
Não o vi. Contornei o carro, procurando por ele, e foi quando encontrei. Caídos atrás do carro, estávamos nós dois mortos. Ouvi um estalo vindo da casa, virei e aquela fumaça preta saindo pelas janelas e portas, eu não sabia o que fazer, nem para onde ir, o fogo se alastrava ainda mais, aquele calor insuportável, tudo se consumindo, foi quando acordamos juntos. Eu, ansiosíssima para esta viagem…
Sobre o processo da escrita
Esta foi a primeira vez que me dediquei a escrever algo “literário”.
Esse conto foi elaborado para uma avaliação de uma das disciplinas do meu curso e, mesmo com todo o desespero para entregar isso na data certa, achei todo o processo muito divertido. O desenrolar das ideias para caberem nas páginas, a mesclagem de referências para a elaboração, foi tudo muito prazeroso, algo que eu nunca tinha experimentado antes. Essa possibilidade de criar histórias com todos os pensamentos criativos que vêm na mente, meio que foi muito mágico pra mim. Descobri um novo mundo. E agora tô muito ansiosa e animada pra continuar com isso.
Além disso, parte das ideias que tive para o conto, foram tiradas de um desenho que fiz anos atrás:
Que também foi o que me inspirou a fazer a capa para esse texto:
Enfim, acho que esse foi o trabalho/criação que mais me animou durante toda minha trajetória de vida enquanto pensadora e criadora. Bom demais nascer para criar!




Ficou muito bom e envolvente, adorei!
ahhh eu amei!! ficou muito bom sério!